sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Compositor de destinos

Colégio Moderno, em Belém, aos 15 anos. Permanecemos juntas até hoje.

Nunca deixei aniversário passar em branco. Na verdade, nunca fui de comemorar - lembro-me de poucas festas que fiz ao longo da vida -, mas sempre vi a data como especial. Para mim, aniversário é um pouco como réveillon, aquele período que a vida te chama para uma conversa e você pode avaliar o que andou fazendo e o que deixou que os outros fizessem da sua vida. Eis que chega mais um outubro em minha vida, trazendo meu dia 20 junto.

Ontem, fazendo meus balanços mentais enquanto o táxi avançava no trânsito inesperadamente bom da JK, me dei conta de que – nossa!!! – já se vão 10 anos dos meus 15 anos. E, sim, sim, o clichê é válido: eu lembro como se fosse ontem! E é por isso que me impressiono, eu pisquei e o tempo, simplesmente, passou!

Lembro como se fosse ontem da minha festa de 15 anos, de cada preparativo, do meu vestido cor de terra que ninguém jamais acreditou que ficaria bonito. Lembro-me das minhas manhãs em todos os colégios de Belém que passei e ainda posso sentir a alegria das risadas gostosas daquele tempo.

De cada dia... Sinto que lembro de todos, dos alegres e dos tristes, porque, mesmo 10 anos  e muitos problemas depois, não vou compactuar com a ideia de que a vida é fácil aos 15 anos. (Você, que tem 15 anos e está lendo isso, um recado: não aceite esse pensamento ridiculamente nostálgico dos adultos que menosprezam os seus problemas. Acredite, eles são grandes, sim!)

Lembro do quanto era corajosa, do quanto acreditava que precisava experimentar para aprender. Eu queria sentir, eu queria viver. Eu  precisava me colocar debaixo do sol quente para entender que, às vezes, ele queima.  E se isso foi bom? Ô, se foi! Eu entendi a vida por mim, não foi ninguém que me explicou não, moço! As cicatrizes que eu levo são minhas e de mais ninguém!

Lembro do quanto fui libertária para uma menina tão nova. Dizia que homem nenhum mandava em mim – e como isso deu briga com meu pai, viu... Que não casava antes dos 30 anos, que só talvez tivesse filhos e que minha vida profissional estava acima de tudo. Não perdia tempo sonhando com casamento.

Mas aí vieram os amores, que, de um jeito ou de outro, me ensinaram a amar um pouco mais, me doar um pouco mais, ceder e, sim, sonhar com casamento e com filhos! E amadureci. Casei aos 23 anos e, hoje, tenho muito orgulho de tudo o que já abri mão em benefício da minha família. O tempo, ainda bem, me fez mais leve!

E o período da faculdade não passou em branco. De todas as coisas que lembro com saudade, deixo registrado que adorava ir pra Unama com a mão ligeiramente para fora do carro, sentindo a força do vento quando conseguíamos pegar velocidade na BR. E é assim que eu lembro desse tempo, porque fui livre, porque experimentei, porque dei minha cara a tapa para o vento bater.

Pois é... Niemeyer é que está certo, no alto de seus 100 anos, não cansa de dizer que a vida é um sopro. E é mesmo. E se é isso mesmo e não tem jeito, eu sempre desejo que seja um sopro forte, doce e, ao mesmo tempo, violento, intenso, um tapa na cara. Um sopro de vida, que não pode escorrer por entre nossos dedos no morrer – viver! – de cada dia.

Ok, não foi num breve piscar de olhos. E ok, o tempo não simplesmente passou. Acho que exatamente por terem acontecido tantas coisas nestes últimos 10 anos que tenho a impressão de que eles voaram.